Sinopse da peça "Os Lusíadas à Conquista do Mar Largo"


Desde que, numa praia lusitana, um Velho lhes prognosticou fatalidades, até que, numa ilha longínqua lhes foi revelada a Máquina do Mundo, Vasco da Gama e os seus companheiros viveram peripécias fantásticas, imortalizadas na obra de Camões.

Agora, seis actores preparam-se para pôr em cena "Os Lusíadas" - tarefa épica. Reis, marinheiros, deuses, catuais, bruxos, ninfas, guerreiros, estão prestes a ganhar vida no Teatro.

O palco é uma nau e um oceano, é terra de África e rio da Índia. Mas a plateia também pode ser tudo isso. É tempo de pôr a máscara e embarcar nesta aventura, porque afinal os Lusíadas somos todos nós.

Sinopse da peça "Auto da Barca do Inferno"

O tempo, no teatro, foge ao seu sentido arqueológico. O tempo que Gil Vicente põe em marcha com o “Auto da Barca do Inferno” não pertence apenas ao século XVI, mas atravessa todas as épocas.

Acreditamos que ainda hoje aqueles dois juízes, aqueles “pescadores de almas”, Anjo e Diabo, estarão à nossa espera para nos apontar defeitos e virtudes, erros e boas acções.

Nesta encenação, procurámos realçar a diferença entre os papéis activo e passivo do Diabo e do Anjo, conferindo ao primeiro a imagem de um andrógino mestre de cerimónias, pronto a receber na sua Barca uma variedade de convidados, e ao segundo a quietude de um ser que espera poucos visitantes, imperturbável como uma borboleta num casulo.

Notas de encenação "Auto da Barca do Inferno"

À esquerda, a barca do inferno vestida de vermelho, e à direita, a barca do paraíso vestida de branco e azul. Os panos que vestem ambas as barcas descem da teia, a toda a altura do palco.

No centro, um pano prateado sugere o rio da morte, e nele se reflectem as luzes de cada barca, na sua eterna luta pela posse das almas.

Neste auto de moralidade do século XVI, a linguagem é possuidora de uma riqueza que a distância temporal poderá tornar incompreensível.

Assim, a decisão de manter o texto em galaico-português integral, sem qualquer tipo de adequação à linguagem quotidiana do século XXI, foi contrabalançada pela opção de dotar as personagens com figurinos da actualidade.

Ao apresentar as personagens com trajes actuais, tentaremos elidir um pouco dessa distância provocada pelo linguajar vicentino, de modo a facilitar a identificação com o espectador.

Os adereços de cada personagem farão parte de jogos cénicos que possibilitarão ao espectador uma melhor compreensão do sentido do texto. O exagero nas dimensões de alguns adereços, a deturpação da função que lhes é atribuída, tudo servirá para elucidar as intenções do autor e sublinhar as suas críticas sociais.

A caracterização das personagens de acordo com estes pressupostos é o que está na base desta encenação.

O Diabo surge da plateia munido de um megafone, a tentar angariar passageiros para a sua barca. O seu discurso é sedutor, simpático, enérgico – um discurso publicitário. Traja como um mestre de cerimónias, com abas de grilo (o Parvo chama-lhe “Cigarra Velha”). A sua barca está em festa, pois espera receber muitos “convidados”.

Da cintura deste Diabo marinheiro pende uma rede de pesca, pois podemos considerá-lo como um pescador de almas. Usa um espartilho, pois trata-se de uma figura andrógina (o Fidalgo confunde-o com uma mulher), e traz uma lima de carpinteiro no bolso do casaco, que tanto pode utilizar para limar as unhas como para enveredar num combate de esgrima. Apoia-se numa bengala que lhe serve de remo e de martelo (também é juiz).

À medida que recebe as personagens, e consoante as reacções e os comportamentos de cada uma, o Diabo transfigura-se: é irónico, alegre, cerimonioso, simpático, agresssivo...

Por oposição ao Diabo, o Anjo apresenta-se imutável, numa quietude em que se confunde com a sua própria barca. Imperturbável, distante, frio, não olha para as personagens que o interpelam e por vezes vira-lhes as costas.

A sua função de juiz faz com que apenas seja caloroso com as personagens merecedoras do Paraíso: o Parvo e os Cavaleiros.

Tal como o Diabo, utiliza uma rede de pesca, instrumento que lhe permite “pescar as almas”.

O Fidalgo apresenta-se vestido de fraque, com cartola na cabeça, condecorações ao peito e bengala na mão. Vem acompanhado de um criado que obedece às suas autoritárias bengaladas. A sua vaidade e altivez, sublinhadas pela submissão do criado, exasperam o Diabo, que afirma já ter recebido na sua barca o pai do Fidalgo.

O Onzeneiro, que vivia dos elevados juros cobrados pelo dinheiro que emprestava, traz um bolsão vazio e as chaves das arcas recheadas de dinheiro cosidas à própria roupa, para não perdê-las. O próprio tilintar das chaves soa-lhe a dinheiro, fazendo-o sentir-se bem acompanhado.

O Parvo traz uma camisola de mangas exageradamente compridas e uns calções demasiado largos, símbolos de uma vida em que nada teve de seu e em que tudo lhe foi dado pela caridade alheia. A única coisa que possuiu foi a sua própria morte, e vem surpreendido e contente com essa aquisição.

As mangas da camisola também se assemelham a uma camisa de forças, de modo a caracterizar a sua demência.

O Judeu apresenta-se encolhido sob o peso de um bode. Da sua cabeça pendem os caracóis próprios dos judeus. Entra em cena a lamentar-se, como se no palco estivesse defronte ao Muro das Lamentações. Traz notas de tamanho exagerado, símbolo do poderio económico dos judeus, e com elas tenta comprar a sua passagem. Nem o Diabo o quer deixar entrar na barca com o bode. Acaba por lançar-lhe a rede e obrigá-lo a ir a reboque.

O Sapateiro vem vestido com a sua roupa de trabalho, e carregado com o peso de muitas formas de sapatos. O Diabo acusa-o de roubar o povo com o seu trabalho e para sublinhar essa ideia rouba-lhe as formas dos sapatos.

O Frade entra a dançar com uma dama que seduziu. Por baixo das vestes clericais, apresenta-se como um soldado. É um Frade mais mundano do que religioso. A sua dama traz um vestido garrido, mas um véu de beata cobre-lhe a cabeça. No início, a cena decorre com alegria, dança, jovialidade, mas o tom muda quando o Frade decide dar ao diabo uma lição de esgrima.

O Corregedor, identificado pela cabeleira de juiz e pelo martelo, enche a cena com a sua figura imponente. Por baixo da capa traz os feitos que o fizeram enriquecer, e exibe-os com orgulho. Acompanha-o o Procurador, que carrega um enorme livro das leis. Este livro simboliza o seu conhecimento distorcido da legislação, que lhe serviu de pedestal para a sua autoridade.

Brízida Vaz aparece no auge da sua decadência, um misto de velha corista e artista de music-hall.

O Enforcado, com vestes de marinheiro, traz ao pescoço uma corda. À medida que conta ao Diabo como foi convencido a enforcar-se, o Diabo enrola a corda, que é tão grande como a história que o Enforcado lhe conta.

Os Cavaleiros surgem com as vestes de Cruzados. São as únicas personagens que não sofreram qualquer tipo de actualização, pois pretende-se criar distanciamento face à glorificação da guerra santa.

A peça de Gil Vicente termina com a entrada dos Cavaleiros e do Parvo na barca do Paraíso, mas nesta encenação pretendeu-se criar um final circular: a peça termina como começou, com o Diabo a agarrar no megafone a fazer publicidade à sua barca e o Anjo a regressar à sua quietude.

Haverá sempre um Anjo e um Diabo à nossa espera para nos julgarem – uma boa maneira para acabar um auto de moralidade.

Sinopse da peça "Falar Verdade a Mentir"

Em “Falar Verdade a Mentir”, Almeida Garrett põe em cena os próprios dispositivos teatrais. José Félix, o criado particular de um General, tudo fará para tornar credíveis as mentiras de Duarte, pretendente de Amália, ama de Joaquina. O motivo: desse casamento depende o seu casamento com Joaquina, que por acaso até tem um dote.

Brás Ferreira, pai de Amália, preparado para apanhar Duarte numa das suas muitas mentiras e cancelar o casamento, é o espectador por excelência da peça encenada e corporizada por José Félix. Quanto a Duarte, acaba por ficar convencido de que não diz senão verdades.

Os exageros românticos, o fluir constante das mentiras de Duarte e a comicidade das personagens interpretadas por José Félix, adquirem vida numa encenação que se inspirou na vivacidade da valsa, a dança romântica cujo ritmo acompanha o compasso do nosso espanto perante esta delirante comédia de enganos.

Notas de encenação "Falar Verdade a Mentir"



Esta encenação tem por base a música e está estruturada como uma opereta. A peça começa com uma Abertura (“O Morcego”, de Strauss) e vários trechos musicais marcam o compasso da entrada das personagens em cena. Toda a movimentação de cena obedece a uma coreografia, por vezes de forma não orgânica, mas rebuscada, exagerada, artificial. As personagens são obrigadas a respeitar as frases musicais, tendo que agir de acordo com os vários ritmos. E, de todos esses ritmos, o que predomina é o da valsa, ou não fosse o nosso protagonista um mentiroso compulsivo, cujas mentiras saem em tiradas de velocidade estonteante, a rivalizar com o compasso de Strauss.
A ambiência sonora também é pontuada pelo som de uma caixa registadora e do tilintar de dinheiro, a música ideal para os ouvidos de José Félix, que só pensa na obtenção do dinheiro do dote de Joaquina.
Não deixa de ser interessante que Almeida Garrett, um romântico, brinque tanto nesta peça com o Romantismo (primazia dos sentimentos), fazendo José Félix vibrar com a ideia de ganhos materiais e ao mesmo tempo pondo-lhe na boca tiradas melodramáticas de grande exagero.
Nesta encenação, o exagero romântico é protagonizado por José Félix com a ajuda de um jornal, adereço introduzido na peça como símbolo da realidade (contraponto da mentira). Joaquina pretende aconselhar Duarte a limitar-se a dizer “as notícias senão as que forem oficiais”. No entanto, ninguém tem tempo para ler o jornal, pois todos são bombardeados pelas mentiras de Duarte, que se sucedem a um ritmo alucinante. O jornal acaba por ser utilizado das mais variadas maneiras, mas nunca para ser lido.
A acção precipita-se para o final, detendo-se num breve momento de paralisia, em que todos ficam extáticos perante o público. Mas esse momento é breve, e a partir daí a orquestra dá os enfáticos acordes finais, culminando numa festividade romântica, numa explosão de vivacidade e optimismo, tal como numa opereta.
Os agradecimentos acompanham o som de uma valsa alegre, como que a mostrar que a vida continua.

Sinopse da peça "Frei Luís de Sousa"

Ouve-se, no início, o clamor da Batalha de Alcácer-Quibir - batalha que ficou retida no espírito de todos como uma ameaça constante. À semelhança da crença no regresso de D. Sebastião, há presságios que anunciam a possibilidade do regresso de outro desaparecido nessa batalha: D. João de Portugal.

Ao contrário do mito do Encoberto, que prometia o esplendor e a salvação com o retorno do rei, temos consciência de que o regresso de D. João de Portugal transformará o amor em crime, a pureza em vergonha, a dignidade em desonra.

O vermelho – cor do sangue, do fogo e das paixões – invade o cenário desta peça, tornando visíveis os receios de um desfecho trágico, ao qual não é possível escapar.

Notas de encenação "Frei Luís de Sousa"


O cenário é despojado e vermelho. Velas vermelhas evocam um lago de fogo. Os quadros são estilizados, sem moldura. As mesas e cadeiras estão forradas de vermelho.

No início do espectáculo tentaremos recuar ao século XVII através da música. “Postos estão frente a frente os dous valerosos campos” é um romance que se cantava nos princípios de seiscentos sobre a Batalha de Alcácer-Quibir. É utilizada a versão em castelhano, pois na altura em que decorre a peça Portugal encontra-se sob o jugo Filipino.

As personagens entram lentamente, como se fossem convocadas pela música. Chegou o momento de confrontarem os seus piores medos e fantasmas. A cena está vestida de vermelho escuro, numa sugestão de sangue (Maria cospe sangue e está a passar da infância para a idade adulta; o sangue derramado na Batalha de Alcácer-Quibir), de fogo (Manuel de Sousa incendeia a própria casa para impedir que os espanhóis a tomem) e de paixões (desejo, vingança, patriotismo).

É neste cenário de sangue e fogo que as personagens irão ajustar contas com o passado, com os seus medos que agora se tornam presentes. E aqui não há fuga possível, pois o cenário está vazio, sem nada onde se possam esconder.

Nesta encenação pretendeu-se que os actores se sentissem irremediavelmente vulneráveis e expostos, de modo a acentuar o desconforto das personagens.

Por vezes, a ausência de objectos é levada ao limite pois, quando existem, estão vestidos de vermelho (mesas, cadeiras) de modo a confundir-se com o fundo da cena.

A iluminação por vezes funciona como elemento de ocultação, fazendo com que os actores fiquem reduzidos a meras silhuetas, à semelhança de fantasmas saídos de um momento triste e pouco glorioso da História de Portugal. A utilização das velas no proscénio também tem o intuito de nos fazer recuar no tempo, até à época em que as representações teatrais eram efectuadas à luz das velas.

Estes elementos conferem à peça uma penumbra fantástica e misteriosa, propícia ao clima denso da tragédia.

Neste universo quase espectral, a chegada do Romeiro, que todos julgavam morto, começa a desencadear consequências trágicas, levando a um despojamento por parte das personagens D. Madalena de Vilhena e Manuel de Sousa (ambos abandonam os bens materiais), e culminando com a morte de Maria.

No final, a cena reflecte esse despojamento, encontrando-se completamente despida.

Os actores agradecem ao som de cânticos gregorianos, iluminados unicamente pela luz das velas, mas de repente essa música antiga transforma-se em música moderna, as luzes acendem-se, e o espectador termina assim a sua viagem pelo tempo.

Descentralização cultural

Um dos principais objectivos do actus é levar o teatro a todas as zonas do país, de forma a descentralizar a oferta cultural.

actus iniciou a sua actividade na última semana de Novembro de 2003, e desde então já se deslocou a Albufeira, Aveiro, Beja, Braga, Bragança, Castelo Branco, Estremoz, Faro, Figueira da Foz, Guarda, Leiria, Manteigas, Oliveira do Douro, Paredes, Pombal, Porto, Santarém, Vila Nova de Gaia, Vila Real de Santo António e Viseu.

Actus e as escolas

actus tem para oferecer às escolas de todo o país um conjunto de espectáculos com ligação articulada aos programas escolares.

Acreditando que a educação dos jovens para a arte em geral, e para o teatro em particular, se forja no núcleo escolar, tentaremos, através da presença regular nas escolas, incrementar o gosto dos jovens pelas actividades artísticas.

Muitas vezes, o primeiro contacto de um jovem com o teatro é promovido pela escola. Desse primeiro contacto nascerá uma natural reacção, positiva ou negativa. As propostas cénicas deverão suscitar alguma curiosidade para uma procura de novas leituras, que permitam aos jovens desenvolver o espírito crítico, a capacidade de análise e a sensibilidade artística.

Neste sentido, procuramos desenvolver produções teatrais que vão mais além de uma mera ilustração dos textos leccionados, motivando os jovens para que a vontade de assistir a futuras representações parta deles próprios.

Apresentação

actus nasceu em 2003, pela mão de profissionais com vasta experiência em teatro didáctico.

Aliando tradição e modernidade, actus propõe uma concepção inovadora das peças didácticas ancorada no texto original, especialmente pensada para formar um público jovem.

Num só acto, actus oferece o palco para um espectáculo repleto de vida, movimento, imaginação, e para uma aprendizagem lúdica do texto de Grandes Autores Portugueses.